A Filosofia Medieval

A Filosofia Medieval é uma tradição na história da filosofia ocidental, e possui 4 sub-tradições, a saber: 1) filosofia árabe, 2) filosofia judaica, 3) filosofia latina e 4) filosofia bizantina (MARENBON, 2004).

Essas quatro tradições estão interligadas de maneira tão próxima que, se por um lado, suas diferenças são importantes, por outro, elas são melhor compreendidas como fazendo parte de um todo (Ibid.).

Essas interconexões podem ser apontadas, em primeiro lugar, no fato de que todas têm uma herança comum da filosofia grega, especialmente da escola neoplatônica, apesar de darem uma maior ênfase nas obras completas de Aristóteles (e não apenas em sua Lógica). Em segundo lugar, suas tradições estão interconectadas em seus respectivos desenvolvimentos, pois os filósofos judeus medievais foram fortemente influenciados pelos filósofos árabes, e traduções de escritos árabes também alteraram o estudo da Filosofia no ocidente latino a partir do final do século XII. Em terceiro lugar, todas essas quatro tradições pertencem a uma cultura dominada por uma religião monoteísta e revelada: Islã, Judaísmo ou Cristianismo (Ibid.).

No entanto, é essa terceira característica - sua conexão com a religião revelada - a responsável pela quase completa negligência de uma maior atenção sobre a Filosofia Medieval por parte dos filósofos profissionais (Ibid.).

Historiadores da Filosofia Medieval, como Victor Cousin (1828 apud MARENBON, 2004, p. 3), argumentam que a autoridade eclesial era absoluta na idade média e que, por essa razão, a Filosofia era usada a serviço da fé: ela se movia dentro de um círculo imposto por uma autoridade externa. Não obstante, Cousin afirma que a Filosofia ainda assim manteve algo de sua própria natureza, e que até mesmo o escolasticismo medieval apresentava a mesma forma encontrada na Filosofia em todas as suas manifestações históricas: idealismo, sensualismo, ceticismo e misticismo (Ibid.).

A partir do final do século XIX, historiadores ligados ao catolicismo ortodoxo trouxeram uma nova perspectiva ao estudo da Filosofia Medieval, se opondo à abordagem seguida por Cousin e outros historiadores "racionalistas" (como eles os nomeavam) (Ibid.).

Mas esses historiadores não argumentam, como poderia se esperar, que a influência da religião revelada foi mais benéfica que prejudicial à Filosofia. Antes, eles insistem que os grandes pensadores medievais (como Tomás de Aquino) reconheciam uma distinção entre Filosofia e Teologia. Eles eram, de fato, grandes teólogos, mas eram também grandes filósofos, que elaboraram sistemas filosóficos racionais independentes da revelação (Ibid.).

A esse respeito, McGrade (2003) afirma que o projeto de Agostinho, por exemplo, era a "fé em busca de entendimento". Isso significa que os resultados de sua busca por sabedoria podem geralmente ser formulados em proposições sistematicamente relacionadas que podem ser examinadas em função de sua consistência, as quais podem ter também outras virtudes "puramente filosóficas".

Tomás de Aquino, como já mencionado, tenta determinar a relação entre entre Teologia (sacra doctrina) e "disciplinas filosóficas" na primeira quaestion de sua Summa Theologiae. Ainda de acordo com McGrade (2003), a linha de demarcação que Tomás propõe entre uma e outra é precisamente o que pode ser descoberto pela "razão" ("razão humana" ou "razão natural"). A isso ele chama de Filosofia (incluindo as ciências naturais). Já a doutrina sagrada, por outro lado, pode usar os métodos e os resultados da Filosofia, mas seus fundamentos são as verdades desveladas por Deus em sua revelação sobrenatural.

Em décadas recentes, todas as áreas da Filosofia Medieval têm recebido um tratamento mais e mais profissional, e há uma crescente ênfase na necessidade de pesquisa de material da idade média. Há uma ampla e, em muitas partes, inexplorada, coleção de manuscritos em bibliotecas por toda a Europa. Ainda há muito trabalho a fazer no sentido de editar obras da Filosofia Medieval, estudar sua difusão, estabelecer cronologias e traçar suas influências (MARENBON, 2004).

REFERÊNCIAS

MARENBON, John. Routledge History of Philosophy: Medieval Philosophy. New York: Routledge, 2004.

MCGRADE, A.S.. The Cambridge companion to medieval philosophy. Cambridge, UK ; New York: Cambridge University Press, 2003.

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