Homo Faber, de Max Frisch - uma breve resenha


Homo Faber, de Max Frisch, é um dos livros mais importantes e mais lidos do século XX. Lançada em 1957, a obra é um relato em primeiro pessoa da história de Walter Faber, um engenheiro extremamente racional, cuja visão de mundo científica e tecnológica não consegue acomodar o acaso, o "irracional", ou seja, aquilo que não pode ser calculado. O que está colocado como pano de fundo é a própria identidade do homem moderno.

Ao partir em uma viagem de negócios para a América Latina, uma série de acontecimentos e decisões do próprio Walter fraturam sua visão de mundo reificada. Nela, Walter conhece um homem parecido com um antigo amigo da época de faculdade, descobrindo que este homem é, de fato, irmão deste. A partir deste primeiro incidente ou "casualidade", o romance se desdobra em duas direções: para o futuro, com acontecimentos altamente improváveis, cuja probabilidade estatística seria mínima (talvez próxima de zero), e também para o passado, à maneira de uma análise psicanalítica, revelando fatos que aos poucos emergem de camadas já há muito sedimentadas, à maneira de um trabalho arqueológico. Não é por acaso que a personagem Hannah trabalha na área arqueológica de um museu.

Alguns temas presentes na obra sugerem interessantes análises a partir dos pontos de vista filosófico e psicanalítico. Um deles é a questão da reificação. Walter Faber é o típico homem contemporâneo reificado, que tenta compreender o mundo a partir de categorias racionais formais e parciais. Para ele, só tem valor aquilo que possui valor de troca. Walter não lê romances, nunca ouviu falar sobre Albert Camus, não gosta de artes. É uma representação pura do homem de formação acadêmica em "ciências exatas". Ele não consegue se relacionar de forma duradoura com ninguém - quatro dias é seu limite com qualquer mulher. As escolhas feitas por Walter também poderiam ser lidas a partir da questão existencialista da liberdade, como em Sartre. Os rumos tomados por sua vida não são mero acaso, mas consequências de suas próprias escolhas. Do ponto de vista psicanalítico, dois aspectos saltam às vistas: o primeiro é a questão do Complexo de Édipo, central nesta obra, mas que não vou comentar para evitar spoilers. A segunda é a maneira como o passado é revivido, trazido para o presente a partir de pequenos elementos aparentemente sem importância. É como na interpretação de um sonho, em que a partir de um pequeno elemento isolado, toda uma teia de associações é construída e faz emergir o conteúdo latente, inconsciente.

Pelo que pude averiguar, esta obra foi traduzida para o português e lançada em 1986 pela Editora Guanabara. Simplesmente não compreendo por que ela não teve novas edições ou reimpressões. Na data em que escrevo estas linhas, pode-se encontrar apenas duas cópias dela no site Estante Virtual, a R$80,00 e a R$99,00. Realmente se tornou uma raridade. Para quem lê em outros idiomas, é mais barato adquirir o original em alemão (como o da foto acima da edição que comprei), ou as traduções para o inglês ou o francês.

Mais fácil de encontrar, porém, é a adaptação desta obra para o cinema, feita pelo diretor Volker Schlöndorff, em 1991. Fora da Alemanha, o filme também é conhecido como O viajante. O que também faz sentido, já que Walter Faber passa toda a obra viajando para diferentes países. Como toda adaptação para outra mídia, no entanto, a história perdeu diversos momentos importantes, além de não ter apresentado os personagens exatamente como eu os apreendi em minha leitura.

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